Episódio...
Hoje estávamos à espera do comboio quando começámos a ouvir uma canção, cantada alta com voz de mulher, numa língua que eu não entendi. Não se pode dizer que era alegre, mas também não era melancólica…era agradável e tinha ritmo. O som foi aumentando e no início da estação aparece uma mulher toda vestido de preto, de etnia a qual não consegui perceber, cantando alto e andando num passo rápido.
Passou por nós e todos se voltaram para ver a autora da melodia. Uns sorriram, outros abanaram a cabeça, outros olharam e ficaram a olhar. A senhora branca que via um atlas sorria e abanava a cabeça ao som da musica, o rapaz branco de óculos escuros e fones olhava de vez em quando para a mulher, a senhora negra e cabelos brancos que lia o Código da Vinci olhou para a mulher, quando ela passou, e voltou a baixar os óculos para a leitura mudando de posição de forma a ficar virada na direcção em que a mulher ia.
A música parou, e em vez dela começou a ouvir-se o que parecia ser um sermão. A mulher gritava qualquer coisa sobre Jesus. Falava em brasileiro, mas continuei sem saber de que etnia era porque hoje em dia a língua que se fala não quer dizer nada!
A senhora negra parou de ler e riu na direcção da mulher, olhou para mim, eu sorri, e então ela disse “A religião fez-lhe mal!” e eu voltei a sorrir. A senhora que via o atlas fechou-o e guardou-o sorrindo como quem diz “Acontece!”. Nisto ouve-se a mulher gritar algo como “…e o homem não tem período…” ao que a senhora negra riu dizendo “Ai que ainda alguém lhe bate!”, virei-me para trás e vi a mulher que continuava a gritar esbracejando muito os braços e a andar de um lado para o outro. “Coitada!” ouvi a senhora negra dizer, voltei-me e olhei para ela… ela sorria e eu sorri também!
Quem me conhece sabe que eu não sou muito dada a conversas, muito menos com estranhos, mas a senhora não pareceu se importar. Continuou a falar comigo e eu deixei de ouvir a outra mulher. Apontou para um pombo que estava em cima dos fios de alta tensão da linha do comboio e questionou-se porque é que o pombo não apanhava nenhum choque. Eu disse-lhe que não sabia mas que realmente era curioso, ela disse-me que o marido trabalhava nas linhas do comboio e contou-me dois casos de dois homens novos que morreram só de tocar no cabo, e o pombo passeava alegremente em cima dele. Realmente nunca tinha pensado nem reparado neste facto, mas é realmente curioso, se alguém souber a resposta agradeço que ma digam!
O comboio veio, enquanto pensávamos no caso, e quando ele parou ela simplesmente disse: “Deus fez as coisas bem feitas!”, sorri e disse “Ah fez concerteza!”. Ela entrou primeiro e quando entrei já ela estava sentada com o livro a guardar lugar para mim. Chamou-me para me sentar ao seu lado. Assim fiz, dei-lhe a minha opinião sobre o seu livro e recomendei-lhe outro, tirei o livro, que estou a ler agora, da minha pasta e assim fomos o resto da viagem, caladas, mas a fazer companhia uma à outra. Chegando à sua estação ela disse que ficava por ali, eu disse que só saia na última, ela falou do tempo e depois desejou-me uma boa viagem e eu uma boa tarde.
eheh :p
Pekita
Passou por nós e todos se voltaram para ver a autora da melodia. Uns sorriram, outros abanaram a cabeça, outros olharam e ficaram a olhar. A senhora branca que via um atlas sorria e abanava a cabeça ao som da musica, o rapaz branco de óculos escuros e fones olhava de vez em quando para a mulher, a senhora negra e cabelos brancos que lia o Código da Vinci olhou para a mulher, quando ela passou, e voltou a baixar os óculos para a leitura mudando de posição de forma a ficar virada na direcção em que a mulher ia.
A música parou, e em vez dela começou a ouvir-se o que parecia ser um sermão. A mulher gritava qualquer coisa sobre Jesus. Falava em brasileiro, mas continuei sem saber de que etnia era porque hoje em dia a língua que se fala não quer dizer nada!
A senhora negra parou de ler e riu na direcção da mulher, olhou para mim, eu sorri, e então ela disse “A religião fez-lhe mal!” e eu voltei a sorrir. A senhora que via o atlas fechou-o e guardou-o sorrindo como quem diz “Acontece!”. Nisto ouve-se a mulher gritar algo como “…e o homem não tem período…” ao que a senhora negra riu dizendo “Ai que ainda alguém lhe bate!”, virei-me para trás e vi a mulher que continuava a gritar esbracejando muito os braços e a andar de um lado para o outro. “Coitada!” ouvi a senhora negra dizer, voltei-me e olhei para ela… ela sorria e eu sorri também!

Quem me conhece sabe que eu não sou muito dada a conversas, muito menos com estranhos, mas a senhora não pareceu se importar. Continuou a falar comigo e eu deixei de ouvir a outra mulher. Apontou para um pombo que estava em cima dos fios de alta tensão da linha do comboio e questionou-se porque é que o pombo não apanhava nenhum choque. Eu disse-lhe que não sabia mas que realmente era curioso, ela disse-me que o marido trabalhava nas linhas do comboio e contou-me dois casos de dois homens novos que morreram só de tocar no cabo, e o pombo passeava alegremente em cima dele. Realmente nunca tinha pensado nem reparado neste facto, mas é realmente curioso, se alguém souber a resposta agradeço que ma digam!
O comboio veio, enquanto pensávamos no caso, e quando ele parou ela simplesmente disse: “Deus fez as coisas bem feitas!”, sorri e disse “Ah fez concerteza!”. Ela entrou primeiro e quando entrei já ela estava sentada com o livro a guardar lugar para mim. Chamou-me para me sentar ao seu lado. Assim fiz, dei-lhe a minha opinião sobre o seu livro e recomendei-lhe outro, tirei o livro, que estou a ler agora, da minha pasta e assim fomos o resto da viagem, caladas, mas a fazer companhia uma à outra. Chegando à sua estação ela disse que ficava por ali, eu disse que só saia na última, ela falou do tempo e depois desejou-me uma boa viagem e eu uma boa tarde.
eheh :p
Pekita
6 Comments:
Que grande sorte!
Um dos meus (sim, não é só um!) insólitos episódios num comboio foi:
passei o dia em Lisboa, calor abrasador e a correr de um lado para o outro (não, Ricardo, não fui às compras).
Ao final da tarde - que bom vou para casa!
Entro numa carruagem e aquilo parecia um episódio piloto de contágio da gripe das aves - 'tava toda a gente com lenços, ou o que havia à mão, no nariz. Não tardei em sentir a mesma necessidade. Nem a ver donde vinha o motivo... estava um sem-abrigo, muito divertido e extremamente à vontade sentado numa cadeira e com o pézinho, descalço, em cima de outro assento.
Conseguem imaginar o cheirinho de toda a variedade de queijos existentes sujeito a alta temperatura???
Bom... decidi mudar de carruagem... andei uma para trás e resolvi ficar junto à porta. Comecei (ou continuei) a sentir um cheiro estranho. Achei que era ainda o queijinho entranhado... Não!... Olhei para o chão e havia vomitado!
O melhor(!) é que, desta vez, eu não conseguia mudar de carruagem!
Esse indígena é, com toda a certeza, um figurante - daqueles que não foram contratados mas arranjam sempre uma maneira de por o cameraman de cabelos em pé - da minha vida!
Bem miga quanto ao pombo nao sei , mas quanto a senhora que viste cantar tb a conheco , ja a vi muitas vezes ... sei que nao es de dar conversa , mas as vezes as pessoas sentem-se tao sós que até de um pombo sao capazes de falar com um desconhecido ... como vez a senhora ao teu lado nao criticou a senhora que cantava , era compreensiva, ao contrario de tantas outras que criticam ou olham de lado com medo de encarar o que é deferente delas ... e sim deus sabe o que faz ...
Beijos miga , continua fico a espera de mais ;)
Pois é... Fiz-te um comentário online quando fizeste o post, mas volto a dizer aqui que sem duvida gostava de ter visto a mulher que cantáva... Não para gozá-la mas sim para poder guardar o momento comigo e poder dar asas à minha pseudoprofição (fotografia).
Adoro estes figurantes... eheheh
Guanto aos pombos poderá ser das escamas que eles têm nas patas que não passa corrente electrica... quem sabe... lol
Jokinhas!
de facto se não fossem estes figurantes a nossa vida não teria o gosto que tem pois são eles que lhe dão a cor... não sei se a vida existe tal como pensamos que ela é... mas o k é facto é que episodios destes fazem dela algo bem mais animado.
amei a historia e mais uma vez me surpreendeste pela positiva. um beijinho muito grande.
Nice colors. Keep up the good work. thnx!
»
Bem então segundo o que entendo de física e das leis naturais, o pombo e todos os outros pássaros que pousam em cima dos cabos eléctricos, não apanham choque porque não estão em contacto directo com a Terra, ou seja, se nós estivermos no chão e tocarmos num cabo eléctrico, o nosso corpo faz de condutor e toda a electricidade passa através de nós para a Terra. Quando a electricidade passa, sentimos o tal choque. Esse choque pode levar-nos, ou não, à morte dependendo da corrente. No caso das linhas ferroviárias, se esse pombo estivesse com um pézinho num fio e com o outro no chão, ficava em cinzas.
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