opah agr n conssigo

Thursday, May 11, 2006

Episódio...

Hoje estávamos à espera do comboio quando começámos a ouvir uma canção, cantada alta com voz de mulher, numa língua que eu não entendi. Não se pode dizer que era alegre, mas também não era melancólica…era agradável e tinha ritmo. O som foi aumentando e no início da estação aparece uma mulher toda vestido de preto, de etnia a qual não consegui perceber, cantando alto e andando num passo rápido.
Passou por nós e todos se voltaram para ver a autora da melodia. Uns sorriram, outros abanaram a cabeça, outros olharam e ficaram a olhar. A senhora branca que via um atlas sorria e abanava a cabeça ao som da musica, o rapaz branco de óculos escuros e fones olhava de vez em quando para a mulher, a senhora negra e cabelos brancos que lia o Código da Vinci olhou para a mulher, quando ela passou, e voltou a baixar os óculos para a leitura mudando de posição de forma a ficar virada na direcção em que a mulher ia.
A música parou, e em vez dela começou a ouvir-se o que parecia ser um sermão. A mulher gritava qualquer coisa sobre Jesus. Falava em brasileiro, mas continuei sem saber de que etnia era porque hoje em dia a língua que se fala não quer dizer nada!
A senhora negra parou de ler e riu na direcção da mulher, olhou para mim, eu sorri, e então ela disse “A religião fez-lhe mal!” e eu voltei a sorrir. A senhora que via o atlas fechou-o e guardou-o sorrindo como quem diz “Acontece!”. Nisto ouve-se a mulher gritar algo como “…e o homem não tem período…” ao que a senhora negra riu dizendo “Ai que ainda alguém lhe bate!”, virei-me para trás e vi a mulher que continuava a gritar esbracejando muito os braços e a andar de um lado para o outro. “Coitada!” ouvi a senhora negra dizer, voltei-me e olhei para ela… ela sorria e eu sorri também!
Quem me conhece sabe que eu não sou muito dada a conversas, muito menos com estranhos, mas a senhora não pareceu se importar. Continuou a falar comigo e eu deixei de ouvir a outra mulher. Apontou para um pombo que estava em cima dos fios de alta tensão da linha do comboio e questionou-se porque é que o pombo não apanhava nenhum choque. Eu disse-lhe que não sabia mas que realmente era curioso, ela disse-me que o marido trabalhava nas linhas do comboio e contou-me dois casos de dois homens novos que morreram só de tocar no cabo, e o pombo passeava alegremente em cima dele. Realmente nunca tinha pensado nem reparado neste facto, mas é realmente curioso, se alguém souber a resposta agradeço que ma digam!
O comboio veio, enquanto pensávamos no caso, e quando ele parou ela simplesmente disse: “Deus fez as coisas bem feitas!”, sorri e disse “Ah fez concerteza!”. Ela entrou primeiro e quando entrei já ela estava sentada com o livro a guardar lugar para mim. Chamou-me para me sentar ao seu lado. Assim fiz, dei-lhe a minha opinião sobre o seu livro e recomendei-lhe outro, tirei o livro, que estou a ler agora, da minha pasta e assim fomos o resto da viagem, caladas, mas a fazer companhia uma à outra. Chegando à sua estação ela disse que ficava por ali, eu disse que só saia na última, ela falou do tempo e depois desejou-me uma boa viagem e eu uma boa tarde.


eheh :p

Pekita

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Que grande sorte!

Um dos meus (sim, não é só um!) insólitos episódios num comboio foi:
passei o dia em Lisboa, calor abrasador e a correr de um lado para o outro (não, Ricardo, não fui às compras).
Ao final da tarde - que bom vou para casa!
Entro numa carruagem e aquilo parecia um episódio piloto de contágio da gripe das aves - 'tava toda a gente com lenços, ou o que havia à mão, no nariz. Não tardei em sentir a mesma necessidade. Nem a ver donde vinha o motivo... estava um sem-abrigo, muito divertido e extremamente à vontade sentado numa cadeira e com o pézinho, descalço, em cima de outro assento.
Conseguem imaginar o cheirinho de toda a variedade de queijos existentes sujeito a alta temperatura???

Bom... decidi mudar de carruagem... andei uma para trás e resolvi ficar junto à porta. Comecei (ou continuei) a sentir um cheiro estranho. Achei que era ainda o queijinho entranhado... Não!... Olhei para o chão e havia vomitado!
O melhor(!) é que, desta vez, eu não conseguia mudar de carruagem!

Esse indígena é, com toda a certeza, um figurante - daqueles que não foram contratados mas arranjam sempre uma maneira de por o cameraman de cabelos em pé - da minha vida!

8:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem miga quanto ao pombo nao sei , mas quanto a senhora que viste cantar tb a conheco , ja a vi muitas vezes ... sei que nao es de dar conversa , mas as vezes as pessoas sentem-se tao sós que até de um pombo sao capazes de falar com um desconhecido ... como vez a senhora ao teu lado nao criticou a senhora que cantava , era compreensiva, ao contrario de tantas outras que criticam ou olham de lado com medo de encarar o que é deferente delas ... e sim deus sabe o que faz ...
Beijos miga , continua fico a espera de mais ;)

8:31 PM  
Blogger Unknown said...

Pois é... Fiz-te um comentário online quando fizeste o post, mas volto a dizer aqui que sem duvida gostava de ter visto a mulher que cantáva... Não para gozá-la mas sim para poder guardar o momento comigo e poder dar asas à minha pseudoprofição (fotografia).
Adoro estes figurantes... eheheh
Guanto aos pombos poderá ser das escamas que eles têm nas patas que não passa corrente electrica... quem sabe... lol
Jokinhas!

9:27 PM  
Blogger Ricardo Pereira said...

de facto se não fossem estes figurantes a nossa vida não teria o gosto que tem pois são eles que lhe dão a cor... não sei se a vida existe tal como pensamos que ela é... mas o k é facto é que episodios destes fazem dela algo bem mais animado.
amei a historia e mais uma vez me surpreendeste pela positiva. um beijinho muito grande.

12:05 AM  
Anonymous Anonymous said...

Nice colors. Keep up the good work. thnx!
»

3:12 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem então segundo o que entendo de física e das leis naturais, o pombo e todos os outros pássaros que pousam em cima dos cabos eléctricos, não apanham choque porque não estão em contacto directo com a Terra, ou seja, se nós estivermos no chão e tocarmos num cabo eléctrico, o nosso corpo faz de condutor e toda a electricidade passa através de nós para a Terra. Quando a electricidade passa, sentimos o tal choque. Esse choque pode levar-nos, ou não, à morte dependendo da corrente. No caso das linhas ferroviárias, se esse pombo estivesse com um pézinho num fio e com o outro no chão, ficava em cinzas.

11:32 AM  

Post a Comment

<< Home